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Música e poesia são armas para lutar pela liberdade de Lula

Festival no Rio de Janeiro reuniu 80 mil pessoas no sábado (28) e entra para a história como ato de resistência e luta por democracia.

Por Tiago Pereira – Rede Brasil Atual (RBA)
30/07/2018 

Ainda no final da tarde, Tizumba abriu o festival Lula Livre, trazendo os ritmos africanos para o palco principal nos Arcos da Lapa, centro do Rio de Janeiro. Os apresentadores ressaltaram o "período de breu, etapa indigna" do Brasil pós-golpe do governo Michel Temer e convocaram os artistas a lutar com as suas armas da música e da poesia contra as injustiças. Também lembraram o compositor Vinicius de Moraes, que dizia, em uma de suas canções, que "mais que nunca, é preciso cantar e alegrar a cidade". 

Gilberto Gil e Chico Buarque comoveram o público com uma nova interpretação de "Cálice". 
Foto: Ricardo Stuckert

"A partir de agora, vamos combater os usurpadores do presente e sequestradores do nosso futuro". A cantora Ana Cañas cantou à capela O bêbado e a equilibrista, composição de João Bosco e Aldir Blanc, celebrada na voz de Elis Regina, que Lula contou a ela ser a sua música preferida. 

"Democracia nessa porra", clamou Ana, que lembrou que nesta sexta-feira (27) a vereadora carioca Marielle Franco (Psol), assassinada em março, completaria 39 anos. Abayomy Orquestra também trouxe a cultura negra e lembrou a figura do rei africano Malunguinho, ex-escravo que liderou um quilombo em Pernambuco. 

A cada apresentação, a plateia entoava o grito Lula Livre, a marca do festival. Os organizadores também anunciaram a agenda de mobilizações entre 10 e 15 de agosto, que começa com mobilização das centrais sindicais no "Dia do Basta", contra as ameaças aos direitos trabalhistas. No dia seguinte, um ato inter-religioso em frente ao STF em defesa da liberdade de Lula, com a presença do Nobel argentino Adolfo Pérez Esquivel, quando também vão apresentar abaixo-assinado com cerca de 300 mil assinaturas que denunciam a prisão política a que Lula está submetido em Curitiba.

No dia 15, o registro oficial de sua candidatura. A população foi também chamada a se organizar em comitês populares em defesa da libertação de Lula e pelo direito de ele concorrer nas eleições. Na sequência, a Gang 90 trouxe hits brasileiros e músicas de amor dos anos 1980 e 1990. 

Ao lado do escritor Eric Nepomuceno, Lucélia Santos fez a leitura do manifesto convocatório do festival. "Todo o julgamento do presidente Lula foi um erro jurídico sem limites. Não havia, na primeira instância – leia-se Curitiba –, uma única e mísera prova dos crimes dos quais ele foi acusado. Não se trata de opinião, mas de constatação." 

"Eles sabem que se soltarem Lula nessa altura do campeonato, ele leva a eleição", comentou da plateia a arquiteta Júlia Ribeiro, de 36 anos, antes de todo o público entoar sucessivos gritos "Lula Livre". "Lutem como Marielle Franco", concluiu a atriz.

"É uma série de mobilizações que vem desde a prisão dele em São Bernardo. E agora no Rio, na Lapa, berço do samba e da cultura popular, a gente espera que o recado fique ainda mais claro quanto à partidarização do judiciário. Dá mais um impulso na luta contra as ilegalidades que vêm ocorrendo no Brasil", afirmou dos bastidores o jornalista Luis Nassif. 

Arcos da Lapa, RJ. Foto: Ricardo Stuckert

Também passaram pelo palco os artistas Gabriel Moura, Lisa Milhomem, Claudinho Guimarães e Dorina. Aíla cantou que todo mundo nasce artista, e "depois vem a repressão". "Essa doença tem cura, existe uma salvação. Faça arte, mesmo que a sua mãe diga que não", dizia o verso da música. 

Os apresentadores lembraram que uma "acusação fajuta" serve de pretexto para a prisão de Lula, já que o ex-presidente não dormiu, nem nunca teve chaves ou escritura do dito apartamento que a ele atribuem. "No processo a Jato, vem antes a condenação, baseada apenas em convicção. Faltou combinar com o povo. A indignação cresce a cada dia. Exigimos a imediata libertação de Lula."

‘Povo organizado’
Ao discursar na noite deste sábado, o Frei Leonardo Boff lembrou os tempos sombrios da ditadura civil-militar que se instalou no país a partir de 1964. "Faz escuro, mas eu canto, disse o poeta Thiago de Mello, na época sombria, da ditadura militar, de 1964”, afirmou.

“Está confuso mas eu sonho, digo eu, nesses tempos não menos sombrios. Sonho ver um Brasil construído de baixo para cima e de dentro para fora, forjando uma democracia popular, participativa, reconhecendo os novos cidadãos, que a natureza é a mãe Terra. Sonho em ver organizado o povo em redes e movimentos sociais. Povo cidadão, com competência para gerar suas próprias oportunidades, e moldar o seu próprio destino, livre da dependência dos poderosos, mas resgatando a própria autoestima.”

Assista a um dos momentos mais comoventes do festival, quando Chico Buarque e Gilberto Gil cantam “Cálice”:


 

*Texto publicado em 28 de julho de 2018 pela RBA/com colaboração de Paulo Donizetti de Souza e Cláudia Motta

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