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Depois de jornalista infectada e editor morto, âncora do SBT pega Covid-19

TV de Silvio Santos é acusada de negligência; ao todo, 35 funcionários da sede no Rio foram afastados com suspeita de contaminação.

Por Crítica 21 – com informações do Notícias da TV e coluna do Leo Dias
15/04/2020

O jornalista e apresentador do SBT Brasil aos sábados, Marcelo Torres, foi diagnosticado com Covid-19 nesta terça-feira (14). No dia anterior, ele havia passado pelo ambulatório da emissora em Osasco, São Paulo, queixando-se de coriza. O médico do local o afastou e pediu para que ele passasse os próximos 15 dias em casa. Então ele foi a um hospital e fez o teste, que apontou positivo para a doença. As informações foram confirmadas pela emissora ao site Notícias da TV, vinculado ao UOL.

Marcelo confessou que estava com sintomas de Covid-19 quando apresentou o SBT Brasil no último sábado. Foto: reprodução/SBT Brasil

Segundo a coluna de Leo Dias, também do UOL, a notícia da infecção do âncora do SBT Brasil causou pânico na redação da emissora em São Paulo. Isso porque o jornalista chegou a trabalhar doente e só foi afastado a partir desta terça-feira (14), quando já tinha tido contato com diversos funcionários do SBT.

O colunista do UOL apurou que colegas de Torres afirmam ser extremamente provável que ele tenha sido contaminado dentro das instalações da emissora. Em uma rede social, o jornalista confessou que apresentou o SBT Brasil do último sábado (11) já com sintomas da Covid-19.

Antes de Torres, dois jornalistas do SBT Rio foram infectados: a apresentadora Isabele Benito e o editor de imagens José Augusto Nascimento Silva. Isabele fez o exame em 28 de março e o resultado positivo saiu três dias depois. O marido dela, Marcelo Rios, testou positivo em 26 de março, mas havia se sentido mal antes, e a jornalista comunicou os fatos à emissora no dia 21. No entanto, ela só foi afastada do serviço no dia da confirmação do teste positivo de seu marido.  

Isabele apresenta o telejornal SBT Rio. Foto: reprodução/Instagram

O tempo que Isabele continuou trabalhando pode ter sido suficiente para infectar outros funcionários da sede carioca. Ao todo, 35 foram afastados com suspeita de contaminação, entre os quais o editor de imagens. Silva foi internado no final de março e ficou duas semanas em estado grave. Na última sexta-feira (10), ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e veio a falecer na segunda-feira (13).

Insalubridade
De acordo com o Notícias na TV, a morte do editor de imagens deflagrou a situação de insalubridade no SBT Rio. Três semanas antes de sua morte, Silva enviou áudios pelo WhatsApp acusando a emissora de negligência por manter trabalhando profissionais suspeitos de terem a Covid-19. Uma dessas pessoas, cita o editor, era a apresentadora Isabele Benito, de quem ele teria contraído a doença.

No áudio, o editor de imagens manifestou indignação com o descaso da emissora, que ele classificou como o "epicentro do coronavírus na cidade do Rio de Janeiro". Segundo funcionários, o SBT Rio foi negligente com quem apresentou sintomas logo de início e reportou à chefia, que os obrigou a trabalhar normalmente enquanto não recebessem o diagnóstico com a confirmação da doença.

Silva classificou a sede do SBT Rio como o "epicentro do coronavírus na cidade do Rio de Janeiro". 
Foto: arquivo pessoal

‘Medidas de prevenção’
Ao Notícias da TV, o SBT disse que está apurando internamente o caso e emitiu uma nota de pesar sobre a morte de Silva, além de afirmar cumprir todas as medidas de prevenção de contágio do novo coronavírus recomendadas pelo Ministério da Saúde. Essas medidas de prevenção, no entanto, foram tomadas mais efetivamente após a morte do editor de imagens.

Nesta terça-feira (14), a direção do SBT mudou procedimentos de segurança de seus funcionários, distribuiu máscaras de proteção para serem usadas durante o expediente, além de enviar comunicado à equipe em que reforçou a importância do distanciamento e da higienização.

‘SBT bolsonarista’
A demora do SBT em tomar medidas de prevenção mais consistentes e afastar os funcionários com suspeita de Covid-19 realça o desleixo da emissora com a questão, em linha com o pensamento do presidente da República, Jair Bolsonaro. A emissora de Silvio Santos tem se destacado pelo apoio ao bolsonarismo, o que tem constrangido sobretudo os profissionais do jornalismo.

Íris Abravanel rezou por Bolsonaro na véspera da morte de um funcionário do SBT por Covid-19, doença que o presidente minimiza. Foto: reprodução 

O ápice da submissão ocorreu no último domingo (12), dia em que o SBT retransmitiu parte de uma live de Bolsonaro com líderes religiosos. Comandado por Íris Abravanel – esposa de Silvio Santos -, o “especial” usou uma emissora pública, a TV Brasil, para fazer propaganda pessoal do presidente e negar a gravidade da Covid-19.  

Íris rezou por Bolsonaro no dia em que um funcionário do SBT sofria na UTI por conta da Covid-19, vindo a falecer no dia seguinte. A emissora abriu espaço para o proselitismo do presidente, que chegou a dizer: “parece que está começando a ir embora a questão do vírus”. Mesmo com o número de mortes aumentando dia a dia, mesmo com estudos e o próprio Ministério da Saúde afirmando que o pico da doença no país será entre o final de abril e maio.

Edição: Anderson Augusto de Zottis Soares - Crítica21

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