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'Canção do Exílio' ganha versão que critica Bolsonaro e a destruição do meio ambiente

Publicado em 1843, o poema de Gonçalves Dias foi 'reescrito' para sintetizar o Brasil sob o governo neofascista de Jair Bolsonaro. 

Por Crítica21  
19/09/2020

“Minha terra tem palmeiras, onde queima o Sabiá”. Assim inicia o poema “Canção do Presente”, que ‘atualiza’ a célebre canção de Gonçalves Dias escrita em 1843. Na versão original, o poeta – que estava em Coimbra, Portugal, quando escreveu o poema – enaltece a fauna e a flora brasileiras e expressa vontade de regressar à terra natal. 

Foto: Raphael Alves/Ensaio Insulae

Na versão atualizada, o ‘eu-lírico’ denuncia a destruição do meio ambiente e retrata a crueldade com os animais e florestas do Brasil, além de tecer críticas ao governo do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro. O poema-denúncia foi escrito pelo jornalista e editor do Crítica21, Anderson Augusto de Zottis, que narra em vídeo a canção, com imagens atuais do Brasil na ‘Era Bolsonaro’. 

Além de cenas da Amazônia Real e do The Intercept Brasil, ilustram o clipe duas fotos de Raphael Alves, alusivas às mortes pelo novo coronavírus; algumas imagens de Sérgio Vale, da agência Amazônia Real; a foto de Ailton Lara que retrata uma onça deitada com as patas queimadas; além de imagens do site Fotos Públicas (Paulo Pinto e Mayke Toscano). Também foi incluída a charge de Renato Aroeira, que associa Bolsonaro ao nazismo, e a foto de Araquém Alcântara, que retrata um tamanduá vítima das queimadas em 2019. 

Confira: 


Canção do Presente 

Minha terra tem palmeiras,

Onde queima o Sabiá;

As onças, que aqui passeiam,

Flamejam quase sem ar.

 

Nosso céu ‘tá mais nublado,

Tem mais veneno nas flores,

Nossos bosques têm mais chamas,

Nas favelas mais horrores.

 

Em cismar – sozinho – à noite –

Desprazer sinto que há;

Minha terra tem fogueiras

E tristes tamanduás.

 

Minha terra tem fascistas

E gados que sabem gritar;

Em cismar – sozinho – à noite –

Desprazer sinto que há;

Minha terra tem palmeiras,

Onde queima o Sabiá.

 

Que a esperança renasça

E o povo volte a sonhar;

Sem governo de milícias,

De cretinos, gente má...

E com frondosas palmeiras,

Onde cante o Sabiá.

 

Anderson Augusto de Zottis

São José do Rio Preto-SP, Brasil - setembro de 2020

 

Versão original:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.


Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras;

Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que eu desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.


Gonçalves Dias

Coimbra, Portugal - julho de 1843 

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