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A relação promíscua entre Dallagnol e Barroso

Diálogos obtidos pelo "The Intercept" apontam que ministro do STF estava na trincheira das violações: “Barroso foi para guerra aberta. E conta conosco como tropa auxiliar”.

Por RBA
25/09/2019

Novos diálogos revelados pela Vaza Jato apontam que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso agiu como uma espécie de consultor do procurador da força-tarefa Lava Jato, Deltan Dallagnol. Conversas obtidas pelo The Intercept e publicadas pelo jornalista Reinaldo Azevedo evidenciam essa relação.

Moro, Barroso e Dallagnol surfaram na onda do "combate" à corrupção. Foto: José Cruz/Agência Brasil

A proximidade entre Deltan e Barroso se estabeleceu, segundo Azevedo, numa viagem que os dois fizeram a Oxford, em 2016. Em um dos diálogos, no dia 13 de maio de 2017, a procuradora Anna Carolina Resende pergunta se Dallagnol está em Oxford:

Deltan, vc tá em Oxford? Vi que Barroso foi e me lembrei q foi aí q vcs estreitaram laços”.

A relação do ministro do Supremo com a Lava Jato se transformou em apoio institucional, de acordo com as conversas obtidas. No dia 29 de março de 2018, Barroso determinou a prisão de José Yunes, ex-assessor do então presidente Michel Temer. Depois de repassar a notícia no chat, Deltan disse:

“Barroso foi para guerra aberta. E conta conosco como tropa auxiliar”.

Além disso, os vazamentos mostram que Deltan falou com Barroso a respeito do sorteio da substituição do ex-ministro Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato, no STF, pedindo que migrasse para a Segunda Turma. No dia 1º de fevereiro de 2017, por exemplo, Deltan disse à procuradora Anna Carolina Resende que o ministro se sentia excluído do processo.

Deltan, fale com Barroso. Insista para ele ir pra 2 Turma”, solicitou Anna Carolina, que endossa a “importância” de Barroso na mudança da relatoria. “Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável”, respondeu Deltan.


Além disso, o procurador da Lava Jato também falou com Barroso sobre campanha das 70 Medidas contra a Corrupção. Relatou Dallagnol, na conversa:

“Caros, comentei com Bruno (Brandão, da Transparência Internacional), mas isso tem que ficar entre nós três, please. Hoje falei com Barroso, que gostou muito da ideia das medidas e da campanha da TI (Transparência Internacional) e vai divulgar. Passei pra ele os arquivos e materiais”

Indulto de Temer
Em dezembro de 2017, os procuradores da Lava Jato discutiam o indulto de Natal tornado público pelo então presidente Michel Temer, que acabaria beneficiando presos da Lava Jato.  Na época, o procurador Diogo Castor de Mattos lançou um artigo de opinião criticou o então presidente, como uma “aniquilação do combate à corrupção”.

O decreto de Temer acabou sendo suspendido parcialmente pela presidenta do Supremo na época, Cármen Lúcia. A decisão da ministra, concedida dia 28 de dezembro, foi informada por Deltan no Telegram aos colegas da Lava Jato, atribuindo ao ministro Barroso atuação em prol da Lava Jato dentro da Corte.

Escreveu Deltan Dallagnol:

“Saiu a liminar. Carmem Lúcia suspendeu parcialmente o decreto. Caso distribuído para Barroso… Que cá entre nós me escreveu elogiando o artigo sobre o indulto. A distribuição pro Barroso foi o que pedi a Deus!”

Substituição de Teori
Teori Zavascki morreu no dia 19 de janeiro de 2017, após um acidente aéreo. Sem publicar uma nota de pesar, os integrantes da Lava Jato iniciaram, no mesmo dia, uma articulação para guindar Roberto Barroso ao posto de relator, com apontam as conversas obtidas pelo The Intercept.

Os diálogos mostram que os procuradores buscaram mobilizar aliados na imprensa para plantar informações e “queimar” nomes. O objetivo do grupo era evitar que a relatoria fosse para os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski ou Dias Toffoli.


Dallagnol cita que recebeu uma “estratégia” passada pelo jornalista Vladimir Netto, da TV Globo, autor do livro que trata da operação e também sobre o então juiz Sergio Moro. Na mensagem, o coordenador da força-tarefa informa que vai mobilizar os tais “movimentos sociais” e propor um tuitaço para pressionar o Supremo.

“Caros, falei ontem com Vladimir Neto. Ele acha que nenhum jornal está peitando dizer que sorteio na segunda turma seria loucura, ou falando contra Gilmar, Toffoli ou Lewa, pq se forem escolhidos o jornal estaria queimado com o relator… Concordo que não podemos ajudar, mas podemos queimar. Creio que devemos nos manifestar em off nesse sentido, falando que sorteio é roleta russa e que tememos que Toff, Gilm ou Lew assumam. Em minha leitura, isso não gerará efeito contrário. O que acham? Meu receio é não fazermos nada antes (embora o que possamos fazer é pouco) e depois ficar o caso com um desses. Reclamar depois será absolutamente inócuo. Os movimentos sociais têm falado sobre isso. Posso falar com eles e sugerir um tuitasso contra o sorteio, mas o problema é que sem sorteio a solução de consenso pode não ser boa também… enfim, sugestões? Cruzar os dedos rsrs? Vou sondar minha fonte enquanto isso”, disse Deltan ao grupo.

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