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Era uma vez no país da cloroquina

Impulsionadas por Jair Bolsonaro, prefeituras Brasil afora estão distribuindo cloroquina e ivermectina contra a Covid-19, embora os medicamentos sejam comprovadamente ineficazes. 

Arte: Bruno Fonseca e Larissa Fernandes/Agência Pública

Por Giulia Afiune, Anna Beatriz Anjos, Julia Dolce, Rafael Oliveira – Agência Pública
16/10/2020

No post do Facebook em que anunciava sua volta ao trabalho após se recuperar da Covid-19, o prefeito de Vilhena (RO), Eduardo Japonês, anunciou também um novo protocolo para tratar a doença na cidade. “Acreditamos ser importante começar a tomar o kit de cloroquina, ivermectina e azitromicina, cerca de cinco dias depois da apresentação dos primeiros sintomas, para curar ou evitar o agravamento da doença”, dizia o post, recebido com mais de 500 likes e uma centena de comentários positivos.  

A medida impediu que a hidroxicloroquina chegasse a quem precisava, como a dona de casa Sueli Souza Santos. Portadora de uma doença autoimune, ela chegou a ficar 40 dias sem o tratamento necessário. “Dói o corpo inteiro, você fica em estado febril e fica de cama porque a dor é demais”, contou à Agência Pública. Em outro post do prefeito de Vilhena no Facebook, Sueli questionou: “Prefeito, me tira uma dúvida, onde conseguiu hidroxicloroquina? Preciso e não encontro na cidade, sou portadora de Overlap, necessito desse medicamento para sobreviver.” 

Vilhena foi apenas uma das cidades brasileiras que resolveu adotar cloroquina, hidroxicloroquina ou ivermectina para tratar a Covid-19, seguindo o que prega o presidente Jair Bolsonaro, e ignorando as volumosas evidências de que esses remédios são ineficazes contra o coronavírus, conforme alerta a Organização Mundial da Saúde. 

Desde quando Bolsonaro começou a fazer propaganda de supostas curas para a doença, diversas prefeituras passaram a adotar os medicamentos ineficazes como parte de suas políticas públicas de combate à doença. Nossa reportagem descobriu que, em muitos municípios, o remédio vendido como “cura” entrou na disputa eleitoral, contribuindo para a popularidade de prefeitos que buscam a reeleição. No Brasil profundo, a cloroquina é “pop”.    

Na série “Era uma vez, no país da Cloroquina” contamos a história de dez dessas cidades: Natal (RN), Macapá (AP), Palmeiras de Goiás(GO), Paranaguá (PR), Joinville (SC), Vilhena (RO), Cáceres (MT), Porto Feliz(SP), São Sebastião (SP) e Mirandópolis (SP). 

Muitas das histórias retratadas na série foram contadas por leitores da Pública através do questionário de investigação participativa. Nesta iniciativa pioneira, os relatos do público sobre as desigualdades e injustiças ligadas à pandemia são investigados e transformados em reportagem pela nossa equipe.  

Contribuições de pessoas de todo o Brasil pintaram um retrato pouco conhecido: de norte a sul, prefeituras oferecem “kits Covid” com medicamentos ineficazes, prometendo, de forma ilusória, prevenir ou curar a doença que já matou mais de 150 mil brasileiros. Em pelo menos oito cidades da série, incluindo Mirandópolis e Porto Feliz, ambas no interior de São Paulo, moradores relataram que os medicamentos foram entregues mesmo sem o resultado do teste para a Covid-19. 

“Remédio para o povo” entra na disputa eleitoral 

Embora seja amplamente questionado pela comunidade médica e científica brasileira, existe um protocolo do Ministério da Saúde que permite o uso da cloroquina para a Covid-19. A ivermectina, em compensação, não tem nem isso.  

Então por que distribuir medicamentos que não funcionam? Especialistas ouvidos pela Pública apontam uso político da falsa cura no contexto da corrida para as eleições municipais de 2020.  

“O uso político de remédios e vacinas está muito óbvio agora durante a pandemia”, diz Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo e presidente do Instituto Questão de Ciência. “É muito fácil você conseguir votos e a simpatia do povo assim: ‘olha como eu cuido da população da minha cidade, eu estou distribuindo um kit de remedinhos de graça’”, exemplifica Pasternak.  

É o que está ocorrendo em Natal, capital do Rio Grade do Norte, de acordo com o cientista político Daniel Menezes, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Em busca da reeleição em 2020, o prefeito Álvaro Dias (PSDB) criou pelo menos três centros de distribuição e defende que a ivermectina “é eficaz para prevenir o coronavírus”. As declarações estão sendo investigadas pelo Ministério Público estadual como possível propaganda eleitoral irregular. “A minha hipótese é a de que ele, de posse de pesquisas qualitativas, conseguiu mapear muito bem o sentimento da população. ‘O pessoal quer remédio? Então remédio eu vou dar’”, diz Menezes. 

“Aqui estamos vencendo o vírus chinês”, diz o tweet fixado no perfil de Everton Sodário (PSL), prefeito da pequena Mirandópolis, no interior de São Paulo. Autointitulado “Bolsonaro caipira” e candidato à reeleição, Sodário segue à risca a cartilha do presidente, incentivando a população a descumprir o isolamento e distribuindo o “kit Covid” com hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, zinco e vitaminas C e D. A compra dos medicamentos ineficazes para combater a Covid-19 recebeu aplausos do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidente, via Twitter.  

Já a prefeitura de Cáceres, no Mato Grosso, apelou para forças superiores. Dentro do saquinho com duas cápsulas de ivermectina havia também uma mensagem religiosa: “esta luta é do Senhor Jesus. Juntos venceremos Covid-19 – SMS Cáceres”. Em um vídeo publicado no Facebook da prefeitura em 21 de julho, o prefeito Francis Maris (PSDB) convidou quem ainda não havia tomado o remédio “como prevenção ao coronavírus” a retirá-lo no centro de convenções da cidade – lembrando, em seguida, que o medicamento não “blinda você de pegar o coronavírus” e que isolamento e máscaras também são recomendados.  

“Saquinhos da ilusão”

“Eu chamo essa distribuição de ‘saquinhos da ilusão’. Nada faz sentido nesses “kits Covid””, afirma Margareth Dalcolmo, médica pneumologista, docente e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “É tão absurda a distribuição desses medicamentos feita politicamente em um momento de eleição. O uso é demagógico e político”, resume a médica.  

Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a comunidade científica internacional já afirmaram à exaustão que não há evidências científicas de que a cloroquina, a hidroxicloroquina e a ivermectina funcionam para a Covid-19. No mundo inteiro, o uso desses medicamentos é desaconselhado. “A gente considera isso um assunto encerrado. A cloroquina realmente não mostrou nenhum benefício para o tratamento da Covid-19”, conclui Dalcolmo, que classifica o uso da ivermectina como “tolice”.  

“90% das pessoas que pegam Covid-19 têm cura espontânea, ou seja, vão se curar com cloroquina, sem cloroquina ou apesar da cloroquina”, afirma a pesquisadora Natália Pasternak. “Os defensores da cloroquina ficam fazendo listas enormes de estudos observacionais e isso impressiona as pessoas. Mas esses estudos não são suficientes para dizer se a cloroquina funciona ou não, pois não mostram uma relação de causa e efeito. Para isso, precisa dos estudos randomizados”, explica Pasternak.  

Ela ensina: os estudos observacionais são apenas um primeiro passo, pois servem para levantar hipóteses de correlações entre a cloroquina e seus efeitos no corpo. Essas hipóteses são testadas nos estudos randomizados, em que o uso da cloroquina em um grande número de pacientes é comparado com o de um placebo – um remédio falso que o paciente recebe sem seu conhecimento. Só o segundo tipo de estudo é capaz de demonstrar a relação de causa e efeito, ou seja, se o medicamento realmente funciona.  E a cloroquina falhou em todos os 11 testes clínicos randomizados realizados até agora. 

“Os melhores experimentos para cloroquina e hidroxicloroquina, com o melhor rigor científico, até agora mostraram que ela não funciona”, conclui a doutora em microbiologia pela USP. 

Já a ivermectina foi capaz de matar o coronavírus dentro de tubos de ensaio, mas cientistas afirmam que isso não é suficiente para dizer que a substância funciona em seres humanos. Estudos randomizados com o vermífugo estão sendo realizados, mas “é pouco provável que funcione como remédio para Covid-19”, de acordo com Pasternak.  

Efeitos colaterais para a sociedade

A ciência já provou que não faz diferença tomar ou não cloroquina para a Covid-19, mas o remédio pode causar efeitos colaterais graves para pacientes cardíacos, principalmente quando associado ao antibiótico azitromicina – composição comum dos “kits Covid” distribuídos em diversas cidades brasileiras.  

Mesmo sem respaldo científico, o Ministério da Saúde ainda mantém a recomendação para uso da cloroquina associada a azitromicina para casos leves, moderados e graves da Covid-19. “É uma recomendação absurda”, diz Dalcolmo. Pasternak concorda: “o Brasil é o único país que ainda leva isso a sério. Nem os EUA mais estão levando isso a sério, veja que o presidente Trump não tomou cloroquina”, diz. Candidato à reeleição, o presidente americano teve Covid recentemente e foi tratado com alguns remédios aprovados internacionalmente e outros experimentais – mas nada de cloroquina. 

Já a ivermectina não é recomendada nem pelo Ministério da Saúde, muito menos pela Organização Mundial da Saúde, que, pelo contrário, se posiciona “fortemente contra o uso de ivermectina” para tratar qualquer coisa além de vermes e parasitas. 

As especialistas ouvidas pela Pública alertam para o “dano social” de tomar a ivermectina, medicamento distribuído com o intuito de prevenir a Covid em pelo menos seis das dez cidades retratadas nessa série. “Pode gerar uma falsa sensação de segurança. As pessoas podem achar que estão protegidas por esse kit e aí elas não precisam mais usar máscara, podem visitar os pais idosos, podem ir em aglomerações, não precisam mais tomar cuidado com o distanciamento social”, alerta Pasternak.  

Como nos tornamos o país da cloroquina

Desde o início da pandemia, cientistas de todo o mundo começaram a testar a eficácia de pelo menos 200 opções de tratamentos contra a Covid-19. A cloroquina e a hidroxicloroquina já eram conhecidas e utilizadas no tratamento de malária e algumas doenças autoimunes. 

Após a publicação de um estudo francês amplamente criticado pela comunidade científica em março, o presidente americano Donald Trump começou a defender a cloroquina publicamente como uma droga “muito poderosa”. O New York Times revelou que um grande doador do partido republicano é acionista de uma empresa francesa que fabrica Cloroquina.  

Dois dias depois, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que o Laboratório do Exército iria ampliar a produção do medicamento. Na época, os estudos sobre a eficácia da droga ainda eram inconclusivos, mas no dia 27 de março, o Ministério da Saúde autorizou o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em casos graves da Covid-19, como terapia complementar e a critério do médico. 

A partir dali, a pressão do presidente se intensificou. O ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que, no início de abril, se opôs a uma ideia discutida internamente no governo de alterar, por decreto, a bula do medicamento para incluir a recomendação para a Covid-19. Em 16 de abril, Mandetta foi demitido do Ministério em parte devido à sua resistência ao medicamento. Menos de um mês depois, seu substituto, Nelson Teich, teve o mesmo destino.  

Apenas cinco dias depois da saída de Teich, o Ministério da Saúde passou a autorizar a prescrição de cloroquina associada à azitromicina para tratar casos leves, moderados e graves da Covid-19, desde que o paciente assinasse um termo de consentimento esclarecendo que não há estudos suficientes que garantam os resultados positivos do tratamento e que ele poderia, inclusive, ter efeitos colaterais. O documento, que serviu de base para alguns protocolos municipais, foi publicado quando a pasta já estava sob gestão interina do general Eduardo Pazuello, efetivado como ministro da Saúde em setembro. 

As orientações do Ministério da Saúde se basearam em um parecer emitido pelo Conselho Federal de Medicina no dia 16 de abril. “Diante da excepcionalidade da situação e durante o período declarado da pandemia, não cometerá infração ética o médico que utilizar a cloroquina ou hidroxicloroquina, nos termos acima expostos, em pacientes portadores da Covid-19”, diz o documento.  

O Conselho Federal de Medicina decidiu não rever seu parecer mesmo com o acúmulo de pesquisas científicas confiáveis comprovando que a droga não funciona. Procurado pela Pública, o Conselho não respondeu às perguntas.  

Pouco a pouco, os fatos levaram entidades médicas e científicas respeitadas a abandonar a cloroquina. Em 15 de junho, a agência reguladora dos Estados Unidos revogou a autorização emergencial da hidroxicloroquina para pacientes com a Covid. Em seguida, a OMS suspendeu definitivamente os testes clínicos que realizava com a droga, argumentando que ela não reduzia a mortalidade dos pacientes com Covid. No fim de junho, foi a vez do Hospital Albert Einstein – onde o presidente costuma buscar atendimento médico – recomendar que os médicos não utilizem o medicamento. Em julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirmou que era urgente e necessário que a hidroxicloroquina fosse “abandonada no tratamento de qualquer fase da Covid-19”. 

Com milhões de comprimidos de cloroquina e a promessa de um milagre, ficamos nós, o povo brasileiro. 

No dia 7 de julho, horas após anunciar que estava com Covid, Bolsonaro publicou um vídeo em suas redes sociais tomando um comprimido de hidroxicloroquina e dizendo que estava melhorando. “Então, com toda certeza, né, está dando certo”, afirma. Ele chega a dizer que o medicamento não tem eficácia comprovada pela ciência, mas reafirma e prega sua crença. “Eu confio na hidroxicloroquina, e você? Valeu. Tamo junto.” 

Bolsonaro também propagandeou diversas vezes nas suas “lives” medicamentos feitos com cloroquina, como as do laboratório Apsen, do empresário bolsonarista Renato Spallicci. Os fabricantes da cloroquina no Brasil, alguns apoiadores declarados do presidente, viram o consumo do medicamento aumentar 358% até julho. Bolsonaro chegou a se reunir duas vezes com um deles durante a pandemia, de acordo com o Estadão. 

Se engana quem pensa que Bolsonaro estava sozinho na defesa da cloroquina. Um séquito de médicos brasileiros passou a difundir o controverso “tratamento precoce” da doença. Um grupo do Ministério Público começou a entrar com ações para que estados e municípios adotassem o medicamento, como a Pública mostrou em reportagem. E pessoas comuns ao redor do país começaram a exigir o medicamento ao poder público, como constatamos em Palmeiras de Goiás (GO) e em Joinville (SC).  

Na cidade catarinense, a pressão popular e a preocupação com a automedicação levaram a prefeitura a criar um “centro de tratamento precoce” com o objetivo de aproximar “quem quer prescrever de quem quer receber” cloroquina. “No âmbito do município – onde a situação realmente está acontecendo, onde as pessoas estão e temos o vírus circulando –, chegamos ao absurdo de criar um local para prescrever, mesmo que de maneira supervisionada, um medicamento que tem sim sua toxicidade, porque as pessoas querem tomá-lo, em vez de a gente explicar adequadamente a elas os seus riscos e a ineficácia”, criticou o médico Fábio Gaudenzi, presidente de Sociedade Catarinense de Infectologia. 

Em alguns casos apurados pela equipe da Pública, autoridades municipais justificaram seus protocolos controversos argumentando que era necessário fazer alguma coisa para combater o avanço do coronavírus, mesmo que os medicamentos disponíveis não fossem a arma ideal. “Nós que estamos na linha de frente estamos com nosso doente na frente, adoecendo”, diz o diretor clínico do Hospital de Clínicas de São Sebastião, Leonel Nulman Szterling. Uma moradora da cidade disse à reportagem que não quis ir ao posto de saúde quando sentiu sintomas de Covid-19 pois ficou com medo de ser forçada a tomar a hidroxicloroquina, que faz parte do protocolo de “tratamento precoce” adotado na cidade.  

Profissionais de saúde da linha de frente e pacientes relataram à Pública que se sentiram pressionados a usar a cloroquina e os outros medicamentos comprovadamente ineficientes contra a Covid. 

Em Porto Feliz (SP), o protocolo da cidade chegou a falar que a prefeitura daria respaldo jurídico somente para médicos que receitassem os medicamentos ineficazes – o trecho foi posteriormente suprimido. O documento era assinado pelo prefeito, Doutor Cássio Prado (PTB), que é médico cirurgião e intensivista, foi um dos primeiros a abraçar a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina e ficou conhecido como garoto-propaganda do “tratamento precoce”. Uma assistente social de Porto Feliz contou à reportagem que os pacientes seguem as recomendações do prefeito-médico, mas que “é assustador o alto número de pessoas que se sentem forçadas a tomar, que não entendem direito o que estão tomando, tampouco o que está escrito no documento [que precisam assinar mostrando que consentem com o tratamento]”. 

Outros argumentos são ainda mais frágeis. Em entrevista, o prefeito de Cáceres (MT), Francis Maris (PSDB), garantiu que o “kit Covid” com cloroquina salva vidas. “Temos vários exemplos, como em uma casa onde seis pessoas tomaram o kit e uma recusou. Essa ficou mal, foi transferida para Campo Grande, pelo plano de saúde, e morreu. Os outros seis não foram nem para o hospital. Então está provado que salva as pessoas”, disse.  

Essas histórias anedóticas, propaladas por autoridades públicas, costumam ter mais efeito sobre a população do que argumentos científicos porque as pessoas não estão familiarizadas com os processos da ciência, diz Natália Pasternak. “Nós somos humanos, nós temos uma ligação afetiva com outras pessoas, principalmente com pessoas que conhecemos. A gente vai acreditar no que essas pessoas falaram”, comenta a doutora em microbiologia. “As pessoas não estão acostumadas a acompanhar um teste clínico que demora anos e entender como é que a gente testa um medicamento, que precisa ser testado num número muito grande de pessoas, não é só uma pessoa que deu certo.”  

Apesar de compreender, ela aponta que boa parte dessas “recuperações” podem ser nada mais do que efeito placebo. “Essas histórias de ‘fulano tomou e se curou’… Quem é que disse que ele não ia se curar sem a cloroquina ou apesar dela?”, questiona.  

Afinal, o que funciona? 

Enquanto políticos se ocupam de comprar, recomendar e oferecer medicamentos que não adiantam nada e podem fazer mal, médicos e especialistas em saúde reiteram que não há cura comprovada para a Covid-19, mas há tratamentos que podem melhorar alguns sintomas.  

A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, afirma que é preciso paciência, pois os sintomas da doença levam pelo menos duas semanas para melhorar. Nos casos leves, é comum que não se faça nada e só se espere passar. “Nas formas graves, o que salva vidas são as chamadas ‘boas práticas de terapia intensiva’. A maioria dos pacientes hoje não são mais intubados, eles são mantidos em ventilação não invasiva, com alto fluxo de oxigênio, fisioterapia”, diz Dalcolmo, acrescentando que corticóides, como a dexametasona, também são utilizados nos casos graves.

Como Dalcolmo afirmou em entrevista à Pública em março, a única arma verdadeira contra o coronavírus é a prevenção, feita com uso de máscara, higiene das mãos e, principalmente, com o distanciamento social, já que ainda não há vacinas nem tratamento para a Covid-19. “Então a única coisa a fazer, a meu juízo, é manter o isolamento social. É preciso que nós separemos e isolemos as pessoas para interceptarmos essa cadeia de transmissão. Não há nenhuma outra arma." 

Colaboraram Bruno Fonseca, Raphaela Ribeiro e Bianca Muniz

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