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À CPI, Dominguetti reafirma pedido de propina, mas oposição desconfia de armadilha do governo Bolsonaro

Oposição e jornalistas estranharam o comportamento da base bolsonarista e do filho do presidente, Flávio Bolsonaro: “Governistas estão defendendo demais um denunciante de corrupção”, afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros. 

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Por Crítica21
01/07/2021 

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se coloca como representante da Davati Medical Supply, falou à CPI da Covid nesta quinta-feira (1º). Ele confirmou que o Ministério da Saúde pediu US$ 1 de propina por doses da vacina AstraZeneca. A denúncia foi antecipada ao jornal Folha de S. Paulo, em reportagem publicada nesta terça-feira (29). 

Segundo o acusador, que também é policial militar em Minas Gerais, o então diretor de Logística da Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi o responsável por negociar a corrupção no contrato. Na CPI, Dominguetti disse que a primeira proposta de vacina era de US$ 3,50, a menor do mercado. A Davati estava ofertando 400 milhões de doses. Dentro desse valor, US$ 1 por vacina seria repassado de propina ao governo federal. 

“A gente sempre tentou colocar uma oferta comercial justa ao Ministério, mas nunca buscamos facilidade por parte do Roberto Dias. Ele sempre colocou como condição amargurar a vacina, se não nem seria comprada. Eu não tinha interesse em seguir com as negociações daquele tipo e encerrei as conversas”, disse o depoente na sessão da comissão. Ele também disse que o tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, ex-assessor e no departamento de logística do Ministério da Saúde, foi o intermediador da empresa com Roberto Dias. 

‘Cavalo de Troia’

A participação do policial militar que se apresenta como representante da Davati foi vista, nas redes sociais e pela oposição, como um “cavalo de Troia” do governo Bolsonaro. Durante seu depoimento, ele tentou atribuir a intermediação da compra de vacinas ao deputado Luis Miranda (DEM-DF), mas foi desmentido. 

“Esse Dominguetti é cavalo de Troia. Quem plantou esse cara?”, questionou o jornalista Leandro Demori, do The Intercept Brasil. “Tudo indica que Dominguetti foi utilizado para tentar desqualificar a denúncia dos irmãos Miranda”, comentou também o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). 

O deputado Luis Miranda desmentiu a versão de Dominguetti e disse que o áudio tratava da venda de luvas. A informação foi confirmada por outro representante da Davati, Cristiano Alberto Carvalho, ao jornal O Globo. 

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) ironizou a atitude do depoente. “Melhor resumo até agora: o mal do malandro é achar que só a mãe dele fez filho esperto”, tuitou. 

Tática militar

O jornalista Rodrigo Vianna fez uma sequência de postagens mostrando a cronologia do depoimento. Ele lembrou que o depoente foi convocado para falar sobre a proposta de propina de Roberto Dias e, sem motivos, apresentou um áudio do deputado Luis Miranda. 

“Dominguetti, ao mostrar áudio, tenta induzir senadores à ideia de que Miranda, ao dizer no áudio ‘mermão…’, se referia ao irmão como comprador de vacina numa outra negociação paralela. Dominguetti se trai ao vivo ao dizer que ‘Miranda veio na CPI para acusar o presidente'”, acrescentou o jornalista. 

Vianna afirma que tudo indica que o depoimento de Dominguetti foi um ‘cavalo de Troia’. “Abateu de uma vez Ricardo Barros e ao mesmo tempo Miranda, gerando caos à CPI. Parece uma operação de contrainteligência militar. Dominguetti é cabo da PM de Minas. Ninguém vai perguntar como um cabo passa uma semana em Brasília negociando vacina? Quem autorizou? Esse Dominguetti tem pinta de P2”, alertou. 

Até Flávio Bolsonaro defendeu

Nas redes sociais, internautas questionaram o fato de senadores da base governista defenderem o depoimento de Dominguetti que, em tese, seria ruim ao presidente Jair Bolsonaro. Até o senador Flavio Bolsonaro (Patriota-SP) interveio em favor do depoente. 

“Por que Flávio Bolsonaro está defendendo alguém que foi depor sobre corrupção no governo de seu pai? É guerra de bandido com táticas de milícia”, postou o jornalista e escritor André Fran, em seu perfil no Twitter. 

Relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) pediu a apreensão do celular de Dominguetti. O aparelho telefônico foi encaminhado para perícia. “Há senadores preocupados com o pedido de apreensão do telefone de Dominguetti. Flávio Bolsonaro é um deles. Renan mandou bem. Governistas estão defendendo demais um denunciante de corrupção no Ministério da Saúde”, comentou o também jornalista Kennedy Alencar. 

*Com informações da RBA.

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