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À deriva de mim: entre o direito à fabulação e as angústias da vida

Lançado no ano passado, segundo livro da escritora potiguar Ana Karla Farias traz experiências pessoais e reflexões sobre as intersubjetividades femininas.

Fotos: arquivo pessoal/reprodução

Por Anderson Augusto de Zottis - Crítica21
24/01/2024

Escrever um livro é sempre uma tarefa árdua, meticulosa. Requer disciplina, criatividade, coragem. Ana Karla Farias gosta desse desafio e faz da escrita uma arma poderosa para posicionar-se frente aos percalços e subjetividades da vida. A escritora revela em seu segundo livro - À deriva de mim (Editora Penalux, 2023) - um universo de inseguranças e descobertas, ao mesmo tempo em que mostra o poder da fabulação e da poesia.


Nascida em Caicó (RN), Ana começa a narrativa relembrando sua infância, a casa onde morava, o lugar onde nascia o “direito à fabulação”. Apesar da educação cerceadora que recebiam, ela e a irmã encontravam espaço para criarem narrativas e se habituarem à prática de escrever. Essa chama inaugural intensificar-se-ia mais tarde, com a descoberta de escritoras como Virginia Woolf e Marguerite Duras. 


Em À deriva de mim, Ana Karla relata as dificuldades da adolescência, a puberdade e as inseguranças próprias dessa fase. Relembra um amor platônico do ensino médio, os anseios para o vestibular e a certeza de que ser feminista era uma necessidade clarividente: “Ainda que o termo feminista soasse como um bicho papão no início dos anos 2000 e não tívéssemos referências feministas, levantávamos [ela e a amiga Nanda] a bandeira da emancipação feminina nos nossos círculos de amizade - o que sempre causava embaraços entre nós e os colegas de sala.”


Terminado o ensino médio, Ana escreve sobre o ingresso na Universidade para cursar Jornalismo e sobre a necessidade de morar numa residência universitária compartilhada por 23 moradoras. Nessa época, a autora se entrega à primeira experiência amorosa, entremeada entre rompimentos e retomadas, e que resulta em decepção e sofrimento. Ana traça paralelos com a história de sua mãe, que também sofreu angústia similar, e faz profundas reflexões sobre como é ser mulher num mundo construído para favorecer os homens.


Mas ela vai além. Tendo por inspiração outras escritoras, Ana Karla sabe seu lugar no mundo e habita com desenvoltura o “espaço coletivo da literatura”. E como ela mesma diz: “Quando as mulheres constroem narrativas que falam do mundo a partir de suas experiências pessoais, implodindo a demarcação entre os espaços privado e público, aufere-se um gesto revolucionário, criador das intersubjetividades femininas”.


Título: À deriva de mim

Autora: Ana Karla Farias 

Editora: Penalux

Ano: 2023

Páginas: 112 

Onde adquirir: https://www.editorapenalux.com.br/catalogo-titulo/A-deriva-de-mim

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