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Morte de homem negro por policiais nos EUA gera protestos e indignação internacional

George Floyd, de 46 anos, teve seu pescoço pressionado por um dos agentes da polícia, mesmo imobilizado; caso ocorreu no estado de Minnesota, na segunda-feira (25). 

Por Lu Sudré - Brasil de Fato
28/05/2020

A morte de um homem negro após violenta ação policial em Minnesota, nos Estados Unidos, tem causado indignação e comoção em todo o país. George Floyd, de 46 anos, morreu asfixiado na segunda (25) enquanto o policial que o rendeu manteve-se ajoelhado sobre seu pescoço. 

Manifestantes protestaram contra o racismo e a violência policial; alguns prédios foram incendiados em Minneapolis. Foto: reprodução/Twitter

Fortes imagens que circulam amplamente nas redes sociais, filmadas por testemunhas, mostram que Floyd afirmou que estava sendo sufocado diversas vezes. “Não consigo respirar”, disse, repetidamente. No entanto, o policial permaneceu na mesma posição. Em outro momento, ele clamou: “Não me mate”.  

Além de ignorar os pedidos da vítima, o vídeo de dez minutos mostra que os policiais também ignoraram os gritos das pessoas que presenciaram a abordagem abusiva. Alguns disseram “o nariz dele está sangrando", enquanto outros pediam "saia do pescoço dele", reforçando que ele estava completamente imobilizado no chão. 

Vídeos que circulam na internet mostram o momento da agressão que resultou na morte de Floyd.
Foto: reprodução/Darnella Frazier

Poucos minutos depois, Floyd parece não se mexer. Ele é colocado em uma maca, e transferido para uma ambulância. Após o óbito ser constatado, a polícia de Minneapolis disse em comunicado oficial que Floyd morreu "após um incidente médico durante uma interação policial".  

A corporação alegou ainda que os policiais respondiam a uma chamada que acusava um homem de tentar usar cartões falsos em uma loja de conveniência. Floyd, que estava dentro de um veículo, foi considerado como suspeito por dois policiais, que afirmam que ele "parecia estar intoxicado".  

Segundo a versão da polícia, foi ordenado que o homem saísse do veículo mas houve resistência. Os quatro policiais envolvidos na prisão foram demitidos e a morte é investigada pelo FBI 

A família de George Floyd defende que os profissionais envolvidos sejam acusados de homicídio. “Quero que esses policiais sejam acusados de assassinato, porque foi exatamente isso que eles cometeram contra meu irmão", disse Bridgett Floyd, irmã de George, à emissora americana NBC 

George Floyd tinha 46 anos. Foto: arquivo pessoal

Protestos

Mesmo em meio à pandemia da Covid-19, na qual os Estados Unidos é o país com maior número de pessoas infectadas, diversas manifestações foram registradas nas ruas do município de Minneapolis. 

Clamando por justiça, centenas de pessoas se reuniram no local onde aconteceu o episódio, com cartazes da campanha “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Importam”, em português) e mensagens que denunciam o racismo da polícia estadunidense.  

Njimie Dzurinko, integrante da Poor People's Campaign e do movimento negro, condena a ação policial e ressalta que a violência é estrutural contra essa população. 

"Ele não fez nada violento. Ele não machucou ninguém. Era acusado de um crime econômico e por isso foi sufocado e morreu, com várias pessoas olhando e filmando. A história da polícia desse país retoma a escravidão do povo africano. A primeira polícia foram os capatazes, que perseguiam os escravos. A força policial sempre se desenvolveu nesse país sendo fundamentalmente antinegros e antipobres. E é assim até hoje", critica a ativista, em entrevista ao Brasil de Fato. 

‘Não consigo respirar’

Os manifestantes relembram o caso de Eric Garner, que também morreu estrangulado por policiais ao ser preso em Nova York, em 2014. Ele repetiu, por 11 vezes, “não consigo respirar”. A frase “I can’t breathe”, em inglês, se tornou uma palavra de ordem internacional, usada em repúdio à violência policial contra a população negra.  

Atos foram registrados até a madrugada desta quinta (28), onde manifestantes atearam fogo em diversos pontos da cidade como forma de protesto. 

Ativistas que protestaram ao redor da delegacia onde os policiais que mataram Floyd trabalhavam foram reprimidos com gás lacrimogêneo. Mobilizações também aconteceram em outras cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles.  

"Existe uma revolta crescendo nesse momento em Minneapolis, que supera questões de raça. São pessoas brancas, negras, latinos, atuando junto para exigir justiça. Os policiais foram demitidos mas queremos que eles sejam processados por assassinato. O assassinato de pessoas negras por policiais nesse país é a expressão mais visível da violência do Estado contra os pobres", reforça Dzurinko. 

Racismo estrutural

Dados sobre o sistema carcerário no país de Donald Trump mostram a ostensividade contra a população negra. Segundo a iniciativa Prison Policy, existem 2, 3 milhões de pessoas privadas de liberdade em prisões e cadeias nos Estados Unidos, que lidera o ranking mundial de encarceramento. 

A disparidade racial é nítida. Os negros americanos representam 40% da população presa, apesar de serem apenas 13% dos habitantes do país. De acordo com a iniciativa, há também um evidente marcador social de gênero, já que as taxas de encarceramento das mulheres estão aumentando mais rapidamente do que a dos homens nas últimas décadas.  

Prison Policy assinala ainda que a grande maioria das pessoas presas são pobres, majoritariamente negros, latinos e mulheres. 

Levantamento do jornal Washington Post apontou que 1004 pessoas foram mortas a tiros por policiais no país em 2019, estatística na qual os negros também são os mais atingidos. Estudo da organização Mapping Police Violence (“Mapeando a violência policial”, em português), também explicitou que, nos Estados Unidos, negros têm quase três vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos. 

Outros casos

Além de Floyd e Garner, a morte de outros negros que eclodiram mobilizações populares nos Estados Unidos. Em 2014, o movimento Black Lives Matter cresceu ainda mais depois que Michael Brown, de 18 anos.

Ele morreu após ser alvejados por tiros em uma briga com o policial Darren Wilson, que não foi indiciado pela justiça. O incidente aconteceu em Ferguson, em Missouri, e provocou uma onda de violentos protestos.

No ano seguinte, Fred Gray, de 25 anos, foi brutalmente espancado após ser detido por estar com uma faca no bolso. Depois de ser levado pelos policiais, foi internado com uma lesão medular grave e faleceu uma semana depois.

Em 2016, Philando Castile foi baleado pelo policial Jeronimo Yanez durante uma blitz em Falcon Heights, também no estado de Minnesota. O resultado da ação foi transmitido ao vivo pela namorada de Philando, para denunciar o assassinato.
 

Dois anos depois, uma policial atirou fatalmente em Botham Jean, de 26 anos, ao entrar em seu apartamento imaginando que era o dela. Segundo a agente, ao ver Jean, imaginou que era um ladrão. Ela foi condenada a 10 anos de prisão. 

Repercussão

Jacob Frey, prefeito de Minneapolis, declarou que o assassinato de George Floyd é “absolutamente desastroso”. Em resposta aos protestos, outros políticos também se manifestaram, como a senadora Kamala Harris, que classificou a abordagem como "um ato de tortura" e "execução pública" de uma sociedade racista.

Amy Klobuchar, que concorreu as primárias presidenciais pelo partido democrata e é senadora por Minnesota, solicitou uma "investigação externa completa e abrangente". 

Artistas e celebridades americanas postaram mensagens em suas redes sociais pedindo justiça e que os policiais sejam condenados, campanha que cresce em nível internacional. Entre elas, a atriz Viola Davis, Penélope Cruz, a cantora Madonna e o jogador de basquete mundialmente conhecido, Lebron James. 

Na legenda da publicação em seu Instagram, Lebron publicoua imagem de Floyd no chão, ao lado de foto de Colin Kaepernick, ex-NFL, que se ajoelhou no gramado durante a execução do hino nacional norte-americano, como forma de protesto contra a violência policial. “Vocês entendem agora? Ou isso ainda está borrado para vocês?", escreveu na legenda.  

Edição: Rodrigo Chagas – Brasil de Fato

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