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O melhor ace de Carol Solberg

A jogadora de vôlei de praia gritou "Fora, Bolsonaro" em entrevista ao vivo; ela será julgada pelo STJD por ter expressado o que pensa sobre o presidente neofascista que envergonha o Brasil. 

Foto: FIVB/Fotos Públicas
Por Anderson Augusto de Zottis - Crítica21  
04/10/2020

Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936, em plena Alemanha nazista. Neto de escravos, o atleta estadunidense venceu a tal “supremacia branca” e desmontou a tese racista defendida por Hitler. As conquistas de Owens foram mais que sucesso esportivo. Elas mostraram ao mundo que a “superioridade ariana” era uma falácia. 

Nos Jogos Olímpicos de 1968, no México, dois atletas norte-americanos protestaram contra o racismo com os punhos cerrados. Tommie Smith e John Carlos fizeram o gesto típico dos Panteras Negras, movimento que nasceu pra combater a discriminação racial e empoderar a comunidade negra. Os atletas foram punidos pelo Comitê Olímpico Internacional, mas entraram para a história como símbolos de resistência. 

Outro que não tinha medo de se posicionar era o campeão mundial de boxe Muhammad Ali. O pugilista lutou pelos direitos civis, contra o racismo e ainda peitou o governo dos EUA quando se negou a lutar na Guerra do Vietnã. 

O Brasil também teve momentos em que esporte e política se misturaram. O exemplo mais conhecido foi a Democracia Corinthiana, que envolveu jogadores de futebol na luta contra a ditadura militar e a favor de eleições diretas no país. Atletas como Sócrates, Wladimir e Casagrande contribuíram para mostrar que o futebol também é instrumento de cidadania e luta política. Assim pensava Reinaldo, o maior artilheiro da história do Atlético-MG, que comemorava os gols com o punho erguido e não se intimidava em se manifestar de forma contundente contra a ditadura. 

Mas essa relação entre esporte e política não é só coisa do passado. Recentemente o hexacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton, se engajou na campanha antirracista e se posicionou nos Grandes Prêmios com gestos, palavras e atitudes. Assim agiram vários atletas da NBA e da liga de futebol americano, que também se uniram aos ativistas do Black Lives Matter – movimento considerado terrorista pelo presidente dos EUA, Donald Trump. 

E no Brasil da “Era Bolsonaro” a talentosa jogadora de vôlei de praia Carol Solberg está sendo perseguida por ter se manifestado contra o presidente que acabou com o Ministério do Esporte, que cortou a verba do programa Bolsa Atleta em 2020 e que tem envergonhado o Brasil mundo afora. 

Após conquistar medalha de bronze no Circuito Nacional de Vôlei de Praia, Carol gritou "Fora, Bolsonaro" em entrevista ao vivo. Foi um gesto de coragem, de consciência política e de liberdade de expressão. Ao protestar daquele jeito, a atleta bradou o que milhões de brasileiros desejam. 

Numa só frase ela expressou repúdio à destruição do meio ambiente, ao racismo, à homofobia, ao desmonte de direitos, ao ódio e à violência como armas políticas. Porque é tudo isso que Bolsonaro representa. Trata-se de um neofascista que tem como ídolos torturadores, pedófilos, milicianos e ditadores. Portanto, opor-se a esse crápula é um imperativo ético, um dever moral, além de ser um direito resguardado na Constituição da República. 

O desportista preocupado com seu país e verdadeiramente patriota deve se unir à Carol Solberg para que o grito de “Fora, Bolsonaro” ecoe ainda mais alto, para que políticas públicas – inclusive para o esporte - não sejam mais corroídas, para que se resgate princípios e valores democráticos, para que tenhamos uma sociedade mais saudável politicamente, mais justa, mais humana e igualitária. 

Esporte Pela Democracia

Com esse espírito foi criado o movimento “Esporte Pela Democracia”, que tem também em suas pautas a luta contra o racismo e o respeito à diversidade. O grupo se solidarizou com a jogadora de vôlei pela perseguição e ataques que ela tem sofrido. 

Carol vai ser julgada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva por ter dito o que pensa, o que milhões de brasileiros pensam sobre um presidente eleito por meio de fraudes, financiamento oculto, manipulações e notícias falsas espalhadas em massa.

Seja qual for a sentença, Carol Solberg orgulha o país e honra o esporte. Entrou para a história como atleta de coragem que não se entrega, que não se curva ao autoritarismo e não se cala ante a injustiça. Impávida que nem Muhammad Ali, ela sacou e conseguiu seu melhor ace na carreira.

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