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Por cloroquina, Itamaraty fez lobby na Índia para empresa de apoiador de Bolsonaro

Embaixador do Brasil na Índia intercedeu para favorecer a compra da substância ineficaz para tratar pacientes com covid-19. 

Bolsonaro é garoto propaganda da cloroquina: "tratamento precoce". Foto: Carolina Antunes/PR/Fotos Públicas
Por Crítica21 
Com informações da RBA e Agência Fiquem Sabendo
19/01/2021

A obsessão do presidente neofascista Jair Bolsonaro por cloroquina envolveu, inclusive, o serviço diplomático brasileiro. É o que revela denúncia da agência de dados Fiquem Sabendo, que obteve informações segundo as quais o Ministério das Relações Exteriores intermediou a compra de cloroquina da Índia pela empresa Apsen Farmacêutica. O presidente da Apsen é Renato Spallicci, um fervoroso apoiador de Bolsonaro. 

Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A agência teve acesso a troca de mensagens que revela um pedido de 100 quilos de sulfato de hidroxicloroquina por US$ 155 mil (cerca de R$ 821.500), matéria prima para a produção do medicamento Reuquinol. Nas mensagens entre autoridades indianas e o embaixador brasileiro em Nova Deli, Elias Luna Santos, aparece claramente como compradora e beneficiada da transação a Apsen Farmacêutica. 

Luna ainda fala sobre pedidos maiores chegando a 1.330 quilos do composto e cita diretamente o relacionamento da Apsen com o laboratório indiano IPCA Laboratories. Ele busca exceções para o pedido, já que naquele momento havia barreiras para a exportação da cloroquina pelo país asiático, e pede celeridade no processo. 

“Seguindo nossa conversa por telefone, o governo do Brasil pede para o governo da Índia para que garanta ao nosso país uma exceção à proibição corrente na exportação de hidroxicloroquina da Índia. Existe a possibilidade de mudança nas regras que permitam uma exceção. Estamos cientes de que vocês têm uma importante relação de negócios com a empresa brasileira Apsen, que busca concluir o envio dos grandes pedidos negociados com a IPCA Laboratories e continuar a importar a substância de vocês. Entendemos que existia um pedido de 1,330 quilos que estava pronta para embarque além de outros pedidos totalizando 25,355 quilos”. 

Mensagem enviada pelo embaixador do Brasil a autoridade da Índia. Foto: reprodução

Surgida a denúncia, Spallicci fez uma limpa em suas redes sociais, mas ainda há vários registros na internet que mostram o amor do empresário pelo maior garoto propaganda da cloroquina. Spallicci fez campanha para Bolsonaro em 2018 e seguiu aliado do neofascista na sua gestão, tendo conseguido reuniões com setores do Ministério da Saúde. 

Foto: reprodução/Facebook

A cloroquina – e sua versão menos tóxica, a hidroxicloroquina – é um medicamento sem eficácia contra a covid-19, de acordo com diversos estudos. Ela também não é recomendada no combate ao novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo assim Bolsonaro, durante toda a pandemia, defendeu e forçou a recomendação do medicamento aos brasileiros. Os estudos indicam que, além de ineficaz, o composto pode desencadear efeitos colaterais, como problemas cardíacos graves. 

Em abril, o consumo no Brasil da cloroquina como matéria-prima cresceu 358%, de acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Boa parte dessa produção passa pela Apsen, de Spallicci, que aumentou significativamente a produção do medicamento Reuquinol, cujo princípio ativo é a hidroxicloroquina. 

Bolsonaro fez propaganda aberta desse remédio em lives em suas redes sociais. Também exibiu o medicamento para líderes do G20 em reunião de cúpula realizada em março do ano passado, e chegou até a apontar uma caixa do remédio de seu apoiador para uma das emas que circulam pelos jardins do Palácio da Alvorada. 

Foto: reprodução/Facebook

Desova de cloroquina

O governo Bolsonaro, por meio do Ministério da Saúde, tenta a todo custo desovar os milhões de comprimidos de cloroquina estocados, e chegou a pressionar os estados a usarem a medicação. Segundo reportagem do Extra, o governo tinha em estoque, em julho do ano passado, 1,8 milhão de comprimidos. A quantidade representa cerca de 18 vezes a produção anual do medicamento, usado comumente no tratamento de pacientes com malária, lúpus e artrite.

Além disso, o laboratório do Exército havia encaminhado 1 milhão de comprimidos ao Ministério da Saúde. Somou-se a essa quantidade cerca de 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina que o Brasil recebeu, no ano passado, como doação dos Estados Unidos e da empresa Novartis. O medicamento também foi vetado pela agência de saúde estadunidense para ser usado contra a covid-19.  

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