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A vitória de Lula e as eleições na América do Sul

Acontecimentos recentes em países sul-americanos deram ao Brasil uma lição de resistência, democracia e participação popular.

Lula e Pepe Mujica são vozes ativas e influentes na política latino-americana. Foto: Ricardo Stuckert

Por Anderson Augusto de Zottis*
01/11/2019

O ex-presidente Lula fez aniversário no último domingo (27), na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Do lado de fora, a vigília que lhe acompanha desde o início de sua detenção ganhou o reforço de caravanas de todo o Brasil. Várias cidades realizaram atos para celebrar Lula e denunciar sua prisão política, inclusive no exterior. Personalidades com projeção internacional mandaram recado ao líder petista, como os filósofos Noam Chomsky e Angela Davis.

Nomes como Zeca PagodinhoMartinho da VilaChico BuarqueFrancis HimeZeca Baleiro e Osmar Prado encaminharam mensagens de apoio e de felicitação a Lula, além de dezenas de políticos e milhares de cidadãos brasileiros que vivem no país e em outras partes do mundo. Um dos mais significativos gestos veio do presidente eleito na Argentina, Alberto Fernández, que defendeu a liberdade de Lula no seu discurso da vitória.

O gesto de Fernández não foi apenas de solidariedade, mas uma demonstração da relevância de Lula para a América Latina. Foi lindo ver a multidão gritando em coro “Lula libre, Lula libre, Lula libre”... Ainda pela tarde, o líder da Frente de Todos já havia lembrado do petista em suas redes sociais, a quem chamou de amigo e "um homem extraordinário que está injustamente preso há um ano e meio". E Fernández já tinha demonstrado solidariedade ao ex-presidente em visita na prisão em Curitiba.

Alberto Fernández, em primeiro plano, saúda Lula durante as eleições na Argentina. Foto: reprodução/Facebook A. Fernández

Outro que também já visitou Lula no cárcere é o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica. Também no domingo ele teve expressiva vitória ao vencer a disputa para o Senado, além de ver seu candidato pela Frente Ampla, Daniel Martínez, vencer o primeiro turno com quase 40% dos votos, cerca de 10% a mais que o principal adversário. O segundo turno tende a ser mais equilibrado, mas os avanços econômicos dos quase quinze anos de governos de esquerda podem convencer os uruguaios a manter a direção do país com a Frente Ampla.

De todo modo, o domingo passado foi determinante para restaurar o ideal progressista de combate ao neoliberalismo, reforço a políticas sociais e respeito à diversidade. Importante ressaltar a histórica vitória de Claudia López numa das principais cidades da América Latina. Também no domingo, ela venceu a eleição para a Prefeitura de Bogotá, capital da Colômbia, e será a primeira mulher lésbica a comandar a cidade no país governado pelo direitista Iván Duque.

Onda de manifestações sacode o Chile contra as políticas neoliberais. Foto: Carlos Figueroa

Todos esses resultados - somados à vitória de Evo Morales nas eleições presidenciais da Bolívia e às manifestações no Chile e no Equador - revelam uma nova correlação de forças na América do Sul, que rejeita governos neoliberais e reconhece o legado de Lula e sua condição de preso político. Por isso mesmo as vitórias nas eleições de domingo foram também uma vitória política do líder petista, ao mesmo tempo em que ampliou a solidariedade a ele no plano internacional. Além disso, os acontecimentos recentes nos países sul-americanos deram ao Brasil uma lição de resistência, democracia e participação popular. Vamos aprender com eles ou continuar perplexos e... passivos?

*Anderson Augusto de Zottis é jornalista e editor do Crítica21

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